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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Colóquio Alves Redol e as Ciências Sociais - a literatura e o real, os processos e os agentes

  De 7 a 10 de Novembro, vai realizar-se um Colóquio sobre a vasta obra  de Alves Redol, um dos escritores portugueses mais lidos à sua época, apesar de muitas vezes desvalorizado por se integrar na corrente neo-realista, por alguns dos seus contemporâneos. 

Terá grande interesse com certeza para todos os que admiram a sua obra e para o dar a conhecer a novos leitores.

Terá lugar no Auditório 1 da Universidade Nova de Lisboa e no Museu do Neo-Realismo. 

 http://www.fcsh.unl.pt/eventos/documentos/ColoquioAlvesRedolPrograma.pdf







terça-feira, 18 de outubro de 2011

«Barranco de Cegos» de Alves Redol



Barranco de Cegos de Alves Redol



Para mim, esta obra de Redol é mais do que um retrato magistral de uma personagem. É um dos maiores romances sobre Portugal, que nos dá a conhecer o Ribatejo profundo, nas suas grandezas e misérias, nas suas brutalidades por vezes chocantes, mas também nas suas coisas belas, como o Tejo, o fandango, os cavalos e os toiros.  O Ribatejo que o lavrador de Aldebarã descreve ao rei D.Carlos como a pátria  do homem criador da própria terra, onde semeava e colhia, como o holandês...

É ainda um precioso documento de como os portugueses viveram outros momentos de crise, de revoltas e convulsões sociais que levaram à morte do rei D. Carlos I e do príncipe real.
Um livro que devia ser lido por todos e pelos nossos políticos e governantes. A ver se aprendiam alguma coisa com a história!


Diz Diogo Relvas sobre os inimigos da Lavoura e da Pátria:

Façam todas as loucuras já que estão loucos. Caminhem para o abismo já que estão cegos. Mas não nos arrastem para o barranco dos cegos e dos loucos...

                                         Barranco de Cegos, de Alves Redol


Barranco de Cegos acaba por ser a biografia de uma personagem real, mas fundamentalmente simbólica de um potentado ribatejano, cuja história Redol nos relata a partir de 1891, ano da revolta republicana no Porto.
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Aquilo que Redol nos mostra é, fundamentalmente, a luta interior e exterior de Diogo Relvas - que simboliza tanto a ideologia conservadora de uma classe dominante como a ideologia reacionária de uma classe decadente - contra a ideologia revolucionária das classes ascendentes.
Redol dá-nos, dentro do romance português, o primeiro retrato magistral de um tal tipo de personagem.

Alexandre Pinheiro Torres



domingo, 18 de setembro de 2011

«Constantino guardador de vacas e de sonhos» de Alves Redol



Releio a obra que me ajudou a crescer e que, fazendo parte dos programas do ensino secundário há anos atrás, li e analisei com os meus alunos muitas vezes. Uma delícia de leitura, uma escrita simples e uma história cheia de interesse e de pássaros. Devia ser lida por todos os jovens, na escola ou fora dela. É sempre tempo de voltar aos programas e às escolas, agora tão precisadas de mudança.
O 1º parágrafo do livro diz tudo:

Tem doze anos, mas não deitou muito corpo para a idade. Ainda está a tempo. Um homem cresce até ao fim da vida, se não em altura, pelo menos em obras e ambições. E nisso promete.

                                in «Constantino guardador de vacas e de sonhos

Não se enganou Alves Redol, ao falar de Constantino. O rapaz «pitorro» da aldeia do Freixial, que sonhava trabalhar em navios, acabou em técnico de aviões. E ainda faz vindimas, em 2011!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

«Avieiros» de Alves Redol

Alves Redol nasceu em Vila Franca de Xira em 1911 e morreu em Lisboa em 1969. Empenhado na luta de resistência contra o regime salazarista, fez da sua escrita uma forma de intervenção social e de luta.
O grande contador de histórias do povo, dá-nos nesta obra com admirável fidelidade e plasticidade a dolorosa faina dos pescadores do sável do rio Tejo. De tal forma, que o seu rosto se assemelha ao rosto dos personagens da sua obra, de todos os Zés,de todos os Tóinos, de todas as suas personagens gigantescas em capacidade de sofrimento e de sobrevivência.
Alves Redol foi mesmo viver para uma das mais conhecidas aldeias avieiras, a Palhota, para melhor conhecer a vida sofrida destes homens, mulheres e crianças, denominados pejorativamente «os ciganos do rio», como se não fossem gente. Ou «vagabundos do rio», hoje talvez uma designação envolvida em algum romantismo e lirismo, ausente naquela época. 

Foi nesta casa que Alves Redol permaneceu e escreveu o seu livro «Avieiros». Este não é o Malagueiro, o cão do pequeno e malogrado João da Vala, cujo nascimento marca o início da obra e que deixa nela uma marca indelével, pois nasce e morre no saveiro que era a sua casa, deixando um enorme vazio na narrativa.







Nestas imagens tiradas noutra localidade avieira, Escaropim, também citada na obra, podem ver-se como eram aproximadamente as barracas dos avieiros, feitas de zinco e de palha, bem como os saveiros que eram as suas habitações e locais de trabalho, enquanto não arranjavam madeiras e outros materiais.
Muitas outras localidades são cenários desta obra, ou apenas citadas, como Muge, Valada, etc, hoje bem diferentes e com bons equipamentos ribeirinhos, como o belo Parque Natural de Valada.





-Assim arrenegado ficas mais velho, Tóino!
-Devia ficar velho depressa e morrer depressa. Que anda a gente aqui a fazer? Não me dizes?!...
-À espera de melhores dias.
Uma semana depois lançam a primeira rede à água. Uma semana depois sabem todos que desapareceram onze barracas e que a palha das outras começa a apodrecer.

À espera de melhores dias, é o destino de toda a humanidade, afinal, ontem como hoje! A nossa condição humana!