terça-feira, 31 de dezembro de 2019



Feliz Ano de 2020 com saúde para nós e para o nosso Planeta.
Lutemos pela sustentabilidade em todos os momentos das nossas vidas e comecemos pela passagem de Ano, mostrando aos que nos governam que não precisamos de Fogos de Artifício Gigantes, em que cada cidade rivaliza com a vizinha, provocando desperdício de verbas que nunca há para as necessidades do país e dos mais desprotegidos, provocando mais aquecimento global e pobreza.
Precisamos sim de medidas realistas e imediatas, mais justiça social e mais protecção às vítimas das guerras, da pobreza e da violência.




sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

«O Homem das Castanhas» de Ary dos Santos



Com o frio, sabem sempre bem umas castanhas quentes, assadas pelos vendedores ambulantes nos seus carrinhos com assadores de barro, agora substituídos por alumínio, que felizmente já estão melhor na vida, pois o negócio sai mais rendoso com os muitos turistas e a dúzia da castanha assada já se paga bem: 2 euros e meio este ano.
Por mim, não me queixo do preço, porque ter o trabalho de as assar em casa é impossível por agora, o braço não o permite. 
E é sempre diferente comê-las na rua, tirando-as bem quentes dum cartucho de papel e saboreá-las lentamente.
Em casa tem a vantagem de serem acompanhadas com jeropiga, uma ótima  bebida também para aquecer os corações.
Este poema de Ary dos Santos expressa bem o que representa na paisagem das cidades esta figura popular, e é interpretado com a voz magnífica de Carlos do Carmo, que este ano completou oitenta anos de vida.


«Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.»


O Homem das Castanhas

Na Praça da Figueira,
ou no Jardim da Estrela,
num fogareiro aceso é que ele arde.
Ao canto do Outono, à esquina do Inverno,
O Homem Das Castanhas é eterno.
Não tem eira nem beira, nem guarida,
e apregoa como um desafio.
É um cartucho pardo a sua vida,
e, se não mata a fome, mata o frio.
Um carro que se empurra,
um chapéu esburacado,
no peito uma castanha que não arde.
Tem a chuva nos olhos e tem o ar cansado
o homem que apregoa ao fim da tarde.
Ao pé dum candeeiro acaba o dia,
voz rouca com o travo da pobreza.
Apregoa pedaços de alegria,
e à noite vai dormir com a tristeza.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
A estalarem cinzentas, na brasa.
Quem quer quentes e boas, quentinhas?
Quem compra leva mais calor p'ra casa.
A mágoa que transporta a miséria…




https://www.youtube.com/watch?v=1PN0zy0XaOQ

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

O azevinho



Picos da Europa

Para a nossa geração, nascida na década de cinquenta, nunca foi possível ver este belo arbusto ao vivo, pelo menos não me lembro. Talvez ainda se vendesse quando era pequena ou jovem, depois ficou em risco de extinção por ser tão comercializado e procurado por ocasião das festas de Natal, devido aos seus frutos vermelhos e brilhantes, contrastando com o verde das folhas.
Foi numa das nossas viagens pelos Picos da Europa, que o consegui ver, emboras sem frutos, porque era tempo de Verão e já deviam ter caído.

Algumas características botânicas, para o interessados:
O azevinho é um arbusto de folha persistente da família das Aquifoliáceas, do género Ilex, de crescimento muito lento, atingindo em adulto de quatro a seis metros de altura e podendo viver mais de cem anos. Alguns exemplares atingem porte arbóreo e podem chegar aos 15 m ou mais.
A espécie Ilex aquifolium L., aparece de forma espontânea em Portugal continental e a espécie Ilex canariensis Poir. ou Ilex perado Aiton, na ilha da Madeira e nos Açores.
Corre o risco de extinção no nosso país, razão pela qual é proibida a sua colheita, transporte e comercialização em Portugal continental.










terça-feira, 24 de dezembro de 2019

«Chove. É dia de Natal» de Fernando Pessoa



Chove. É Dia de Natal


Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés. 

Fernando Pessoa



sábado, 21 de dezembro de 2019

«Ronda do soldadinho» de José Mário Branco



Porto, 25 de maio de 1942 - Lisboa, 19 de novembro de 2019)

Passou já um mês e dois dias que morreu o músico e cantautor José Mário Branco.
As suas canções em defesa da liberdade, de um Portugal livre de fascismo, de opressão e de guerras coloniais serão eternas e nunca esquecidas.

É sempre bom recordá-lo e ouvir a Ronda do Soldadinho, numa época de Natal em que todos pedem o fim das guerras, nem que seja por um dia. Infelizmente nem sempre isso acontece, e quando acontece, não é um sinal verdadeiro de paz e amor ao próximo, mas apenas um breve interregno convencional dos «senhores da guerra»

Ronda do Soldadinho (1969)
Letra e Interpretação: José Mário Branco
Um e dois e três
Era uma vez
Um soldadinho
De chumbo não era
Como era
O soldadinho
Um menino lindo
Que nasceu
Num roseiral
O menino lindo
Não nasceu
P’ra fazer mal
Menino cresceu
Já foi à escola
De sacola
Um e dois e três
Já sabe ler
Sabe contar
Menino cresceu
Já aprendeu
A trabalhar
Vai gado guardar
Já vai lavrar
E semear
2.
Um e dois e três
Era uma vez
Um soldadinho
De chumbo não era
Como era
O soldadinho
Menino cresceu
Mas não colheu
De semear
Os senhores da terra
O mandam p’rà guerra
Morrer ou matar
Os senhores da guerra
Não matam
Mandam matar
Os senhores da guerra
Não morrem
Mandam morrer
A guerra é p’ra quem
Nunca aprendeu
A semear
É p’ra quem só quer
Mandar matar
Para roubar
3.
Um e dois e três
Era uma vez
Um soldadinho
De chumbo não era
Como era
O soldadinho
Dancemos meninos
A roda
No roseiral
Que os meninos lindos
Não nascem
P’ra fazer mal
Soldadinho lindo
Era o rei
Da nossa terra
Fugiu para França
P’ra não ir
Morrer na guerra
Soldadinho lindo
Era o rei
Da nossa terra
Fugiu para França
P’ra não ir
Matar na guerra.

soldados nas trincheiras na 1ª Guerra Mundial


https://www.youtube.com/watch?v=a41VQmS1zmk

quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

«O Pastor» de Eugénio de Andrade

                             Os 3 pastorinhos de Fátima (em Porto de Mós)


O PASTOR 


Pastor, pastorinho,
onde vais sozinho?

Vou àquela serra
buscar uma ovelha.

Porque vais sozinho
pastor, pastorinho?

Não tenho ninguém
que me queira bem.

Não tens um amigo?
Deixa-me ir contigo.

EUGÉNIO DE ANDRADE

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Grutas de Alvados, Serra d' Aire


Percorrer a Serra d' Aire é uma aventura cheia de descobertas maravilhosas, a cada passo. 
Desta vez, escolhemos o Outono, para podermos admirar as suas belezas nesta estação do ano.


E fiquei surpreendida com tantas cores contrastantes, com as lagoas de Arrimal, que tinham bastante água (mesmo sendo 2019 um ano de seca), alguns patos e até um casal de corvos marinhos. 


Bandos enormes de pássaros banqueteavam-se nos campos verdes e levantavam voo assustados, grupo de muitos corvos  saltitavam na estrada e voavam para longe à nossa chegada, num cenário natural estranho porque nunca visto.
O castelo de Porto de Mós a mirar a cidade cheia de iluminações natalícias continua a deslumbrar.


A Pousada de Juventude de Alvados, que agora alberga todas as idades (devia-se chamar só Pousada de Alvados, mas tudo bem, pode-se ser jovem toda a vida e enquanto se puder viajar é bom sinal) é ótima e com uma vista deslumbrante sobre a serra, sem obstáculos.

E as grutas de Alvados, claro, juntamente com as de Sto. António, um mistério das entranhas da terra, que suplanta todas as outras descobertas. Pingo a pingo, milímetro a milímetro ali moram as mais belas esculturas do mundo.






segunda-feira, 16 de dezembro de 2019

Postais de Natal



Mais uma perda dos tempos modernos: os postais de Natal.
Eram (e ainda são tão bonitos), eu ia-os colocando em cima duma mesa, recebia-os de várias partes do mundo, de pessoas com quem não tinha contacto durante o ano nem mail. 

Agora devem estar reduzidos a dois ou três, de pessoas com muita idade, e fico contente por ver que não se esqueceram de mim.
Mas ainda há quem os envie.
Se as estações de Correio ainda não tiverem desaparecido também.
Rui Veloso que fazia parte do grupo dos anos 90 Rio Grande, cantou o Postal dos Correios, que teve grande êxito.

Postal dos Correios

Querida mãe, querido pai: Então que tal?
Nós andamos do jeito que Deus quer
Entre dias que passam menos mal
Em vem um que nos dá mais que fazer
Mas falemos de coisas bem melhores
A Laurinda faz vestidos por medida
O rapaz estuda nos computadores
Dizem que é um emprego com saída
Cá chegou direitinha a encomenda
Pelo expresso que parou na Piedade
Pão de trigo e linguiça pra merenda
Sempre dá para enganar a saudade
Espero que não demorem a mandar
Novidade na volta do correio
A ribeira corre bem ou vai secar?
Como estão as oliveiras de candeio?
Já não tenho mais assunto pra escrever
Cumprimentos ao nosso pessoal
Um abraço deste que tanto vos quer
Sou capaz de ir aí pelo Natal


sábado, 16 de novembro de 2019

Rosalia de Castro



Rosalia de Castro nasceu em Santiago de Compostela, em 1837 e morreu em Padrón em 1885, não chegando assim a completar os cinquenta anos.
Santiago de Compostela 2017

É considerada uma das maiores escritoras e poetisas da Galiza, sendo o dia 17 de Maio, Dia das Letras Galegas, feriado por ser a data de edição da sua primeira obra em língua galega, Cantares Galegos.



Este poema sobre o tema da emigração, que abalou gravemente a Galiza, que levou muitos homens a partir para Portugal, África, Brasil e outros países, é de grande beleza e tocante no retrato que faz de um povo que sofre.
Aqui fica cantado com a bonita voz da cantora de Manhouce, Isabel Silvestre.

Padron, 2017



Cantar de emigração



Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão

Tens em troca orfãos e orfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.

Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos
que ninguém consolará



https://www.youtube.com/watch?v=hcr3XhXdXfA

terça-feira, 12 de novembro de 2019



A canção Menina estás à janela faz parte do cancioneiro popular alentejano e tornou-se famosa (para quem ainda não a conhecia) na voz e interpretação de Vitorino.
Desde aí, toda a gente a sabe cantarolar, pelo menos alguns versos.
Aqui fica na sua totalidade, como «prenda minha».

Pedras d'El Rey (Tavira), Setembro 1997

Menina estás à janela
com o teu cabelo à lua
não me vou daqui embora
sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda tua
sem levar uma prenda dela
com o teu cabelo à lua
menina estás à janela
Os olhos requerem olhos
e os corações corações
e os meus requerem os teus
em todas as ocasiões
Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua

Monsaraz
Sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela

Os olhos requerem olhos
E os corações corações
E os meus requerem os teus
Em todas as ocasiões

Menina estás à janela
Com o teu cabelo à lua
Não me vou daqui embora
Sem levar uma prenda tua

Sem levar uma prenda tua
Sem levar uma prenda dela
Com o teu cabelo à lua
Menina estás à janela

 Letra e música: Popular (Alentejo)

Recolha e adaptação: Vitorino
https://www.letras.mus.br/vitorino/1054695/