quinta-feira, 29 de maio de 2014

«Um rosto na cidade» de David Mourão-Ferreira




Sempre a poesia e os poetas, que nos salvam do efémero caótico do dia a dia a que nos querem condenar.
E as cidades que eles nos evocam, como Veneza (cidade a emergir da terra), Sevilha ou, noutra escala,  Aveiro,  também bela e pitoresca com os seus barcos e canais.
Os rostos, esses, continuam a passar pelas cidades, mas sem risos.
 
 
David de Jesus Mourão-Ferreira (1927/ 1996) 
 
 
 Veneza e as suas gôngolas
 
Um rosto na cidade



Um rosto   Uma cidade  
Um rosto sem nevoeiro
Acordas de manhã no golfo do meu ombro
E vem contigo a luz dos campi de Veneza
com a laguna ao longe e gôndolas na sombra
Um rosto   Uma cidade a espreguiçar-se ao vento
Luz de canais em torno   E de canais por dentro

Um rosto   Uma cidade  
E um rasto se adivinha
no riso de uma rua   à esquina de uma ruga
Nem vejo a tua boca   Um pátio de Sevilha
agradece em Agosto a chegada da chuva
Um rosto   Uma cidade a emergir da terra
Luz de pátio molhado   E de água na cisterna

                                                               David Mourão-Ferreira, in Matura Idade




Aveiro
De dia e à noite, com os seus  barcos moliceiros - 2004
 

sábado, 17 de maio de 2014

«É preciso avisar toda a gente...»



João Apolinário (Belas, Sintra, 1924 — Marvão, 1988) foi um poeta e jornalista português.
Combateu o fascismo tanto em Portugal como no Brasil, durante o tempo que aí esteve exilado. 
Colaborou em inúmeras publicações importantes nos dois países. É, no entanto, mais conhecido pelos seus poemas , musicados pelo filho João Ricardo e apresentados pelo conjunto Secos e Molhados.

Publicou ainda os livros Primavera de Estrelas, Apátridas, AmorfazerAmor, Poemas Cívicos e Eco Humus Homem Lógico, entre outros. Retornou a Portugal em 1975, após a Revolução dos Cravos. João Apolinário morreu a 22 de outubro de 1988, na pequena vila portuguesa de Marvão.
 
 
 
                              Urgente... Mais flores

É preciso avisar toda a gente
Dar notícia, informar, prevenir
Que por cada flor estrangulada
Há milhões de sementes a florir.

É preciso avisar toda a gente
Segregar a palavra e a senha
Engrossar a verdade corrente
De uma força que nada detenha.

É preciso avisar toda a gente
Que há fogo no meio da floresta
E que os mortos apontam em frente
O caminho da esperança que resta
É preciso avisar toda a gente
Transmitindo este morse de dores
É preciso, imperioso e urgente
Mais flores, mais flores, mais flores.
 
 
                              João Apolinário
 
 


sábado, 10 de maio de 2014

Abuso de poder e de liberdade


                                                                Luis de Stau Monteiro



Estava a ler a peça de teatro «Guerra Santa» de Luis de Stau Monteiro, que critica a ditadura de Salazar e a guerra colonial, quando,de repente, se fez luz e entendi finalmente o que se passou no nosso país nos últimos anos, principalmente nos da governação do XIX governo Constitucional.

É simples: houve alguns sujeitos mal formados que se aproveitaram das liberdades conquistadas pelo 25 de Abril, apropriaram-se de todos os direitos em seu próprio proveito e abusaram da própria Liberdade, que lhes foi fraternalmente concedida, para destruir um país.
Uns escalrachos, em última análise, ou seja, ervas daninhas e parasitas.




 
E ainda se dão ao desplante de dizer mal da Revolução de Abril de 74, ou de quem participou nela.
 
É por isso é que é bom ler!!