domingo, 29 de setembro de 2013

«Léah e Outras histórias» de José Rodrigues Miguéis









José Rodrigues Miguéis (Lisboa 1901/ Nova Iorque 1980)


O homem, Léah, distingue-se da besta por um calo sensível que esta não possui, segundo cremos: a consciência moral (...).
Em lugar de te seguir o exemplo, saboreando sem problemas o nosso amor, a nossa juventude e liberdade, passei a julgar-me réu de traição e deslealdade.


                José Rodrigues Miguéis,  Léah in Léah e Outras Histórias



A hora da verdade está a chegar, neste dia de eleições autárquicas dum pequeno país que podia ser maravilhoso, mas não é, graças aos desmandos e corrupção dos grandes senhores que tomaram o poder e se serviram dele como tiranos que são, no mais profundo do seu ser empedernido e ganancioso.
Sem o calo sensível da consciência moral.
Nada melhor do que ouvir e recordar as palavras dos grandes e sábios, neste momento. «Eles» não ouvirão nada, já que estão surdos e se pensam imortais.


 

domingo, 22 de setembro de 2013

O fim do Verão no Jardim da Estrela












Por fim renasci
De novo o mar
Lisboa o jardim e o rio
A luz o calor o frio
O mundo todo
                                          
                                                         Isabel del Toro Gomes

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

«Inscrição Estival» de David Mourão-Ferreira

Estátua no Parque dos Poetas, Oeiras



David de Jesus Mourão-Ferreira (1927/ 1996) 



 Ó grande plenitude!

                                              E a tudo,

a tudo alheio,
                                     saboreio.


Absorto
                sorvo
este cacho de curvas
                                       tão maduras...


Este cacho de curvas que é o teu corpo!

                                      

                     David Mourão-Ferreira, Canto II, in 
                     Os Quatro Cantos do Tempo (1953-58) 


E com um poema cheio de curvas, de verão e de um corpo pleno de beleza, deste grande poeta nunca esquecido, esperemos, nos despedimos do verão que vai acabando. 






domingo, 15 de setembro de 2013

«Luz Universal» de Isabel del Toro Gomes


 
 
 
Luz universal

 O dia começou

A brilhar

A criança dentro de mim

Abriu a custo os olhos  

A vida sorriu-lhe

E disse:

Vai, caminha em frente

Vai por esse mundo

É preciso continuar a lutar

Mais e mais ainda

Está sol

E eu sei que ele brilha

Para ti

E para toda a gente.

                                         
                                                          Isabel del Toro Gomes

 



domingo, 8 de setembro de 2013

Cecília Meireles



Cecília Meireles (Rio de Janeiro 1901/1964)
 A arte de amar é exactamente
a de ser poeta.
                                                                  Cecília Meireles

Os sáris de seda reluzem
como curvos pavões altivos.
Nas narinas fulgem diamantes
em suaves perfis aquilinos.

Há longas tranças muito negras
e luar e lótus entre os cílios.
Há pimenta, erva-doce e cravo,
crepitando em cada sorriso.

Os dedos bordam movimentos
delicados e pensativos,
como os cisnes em cima da água
e, entre as flores, os passarinhos.
E quando alguém fala é tão doce
como o claro cantar dos rios,
numa sombra de cinamomo,
açafrão, sândalo e colírio.

(Mas quase não se fala nada,
porque falar não é preciso.) 

Tudo está coberto de aroma.
Em cada gesto existe um rito.
 (...)


                                  Cecília Meireles (poema escrito na Índia)

Poema de palavras mágicas que evocam a Índia ancestral, as cores vivas dos sáris que contrastam com as tranças negras, os sons, os gestos, os aromas, os rituais...
Quem me dera ir à Índia, e ser capaz de escrever um poema com tanta sabedoria e beleza como este.