segunda-feira, 15 de julho de 2013

«Dies Irae» de Miguel Torga

 


Os tempos em que viveu Miguel Torga não eram fáceis. Os tempos em que vivemos agora também não, salvaguardadas as distâncias históricas. Mas, no essencial, são Dias da Ira, em que nos apetece chorar, gritar, fugir.... Muitos de nós temo-lo feito, é necessário continuar a fazê-lo para que nos deixem viver a vida que ainda temos. A escrita e a poesia é uma das armas contra a tirania dos medíocres e incultos que se atrevem a querer governar o mundo.



 Dies Irae

 Apetece cantar, mas ninguém canta.
Apetece chorar, mas ninguém chora. 
Um fantasma levanta
A mão do medo sobre a nossa hora.

Apetece gritar, mas ninguém grita.
Apetece fugir, mas ninguém foge.
Um fantasma limita
Todo o futuro a este dia de hoje.

Apetece morrer, mas ninguém morre.
Apetece matar, mas ninguém mata.
Um fantasma percorre
Os motins onde a alma se arrebata.

Oh! Maldição do tempo em que vivemos, 
Sepultura de grades cinzeladas
Que deixam ver a vida que não temos
E as angústias paradas!
  
                                                                 Miguel Torga




                                                                     monumento em Coimbra

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