quarta-feira, 24 de abril de 2013

«25 de abril 2013» de Isabel del Toro Gomes






 
25 de abril 2013
O futuro saiu à rua
Por uma manhã soalheira
Silenciosa e monótona
As crianças desfilaram
À sua maneira
Com a sua alegria habitual
Como se não houvesse fome
Nem desemprego



Mas lá bem do fundo
As suas vozes mil
Revoltaram-se e gritaram
«Este mundo está doente
Nós vamos tratar dele
Nós também somos gente
Nós sabemos …
Tanta coisa que nós sabemos»


O futuro saiu à rua
Lembrando que abril
Será sempre o abril de toda a gente! 



segunda-feira, 22 de abril de 2013

Provérbios sobre o Silêncio


  


Gosto muito de provérbios, pois gosto.
Embora alguns deles já estejam desactualizados.
Mas muitos continuam a ser duma sabedoria eterna. 
É bom continuar a lembrá-los. E a ficar em silêncio!


O silêncio é uma virtude quando nos evita dizer ou ouvir tolices

O silêncio é a virtude dos fracos

O silêncio, é a retórica dos amantes

A palavra é tempo; o silêncio, eternidade

Bom silêncio vale mais que má pergunta    

O silêncio é o maior dos martírios; nunca os santos se calaram.

O silêncio é a alma do negócio

 "Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado."

 O silêncio é às vezes mais eloquente que os discursos

O silêncio é de ouro

 O silêncio também fala

Silêncio não significa esquecimento

Apenas o silêncio é grande, tudo o mais é debilidade.
 
 Nada faz realçar mais a autoridade do que o silêncio, esplendor dos fortes e refúgio dos fracos

 Arrependo-me muitas vezes de ter falado, nunca de me ter calado."

domingo, 21 de abril de 2013

«Passeamos pela vida» de Isabel del Toro Gomes







 Passeamos pela vida


Passeamos juntos, enfim
Pelas arribas, pela praia sem fim
Pisamos juntos as rochas
A areia molhada
Olhamos juntos os céus
A neblina, o mar
E pensamos ao olhar
O amor devia ser assim
Azul, denso e eterno
Como o mar, a neblina e o céu.




quinta-feira, 18 de abril de 2013

«Noite de cães» de Álvaro Guerra





Havia um comerciante libanês que tinha uma loja no «mato» e o armazém cheio de mancarra e a mancarra determinava a vida e a morte dos homens, no «mato».

Pede amendoins, «Oui, des cacauettes». Não há. Pensando bem, ele nem sequer gostava muito de mancarra-amendoins-cacahuettes, ele apenas sente vontade de se ouvir numa alusão vaga à importância dessa coisa sem importância que é algures o pão e a fome.
Ah, como a memória está ainda fresca!
Agora ele não quer esquecer o que são a Fé eo Império ou em que é que se transformaram ou, afinal, que não se transformaram senão naquilo que sempre foram.

                 Álvaro Guerra, Noite de cães, in O Disfarce

 

 


Deixando de lado as referências político-sociais do excerto deste imprescindível livro de Álvaro Guerra, centrei-me unicamente na alusão aos amendoins que na Guiné dos anos da Guerra Colonial era conhecida por «mancarra» (não sei se se mantém esta magnífica denominação) e ao facto de um libanês ter uma loja no meio do mato e no meio da guerra.
Já tinha lido algumas obras sobre as excentricidades e os episódios «anedóticos» desta guerra, que devem acontecer em todas as guerras, mas estes dois factos deixaram-me ainda surpreendida.
O homem é capaz de tudo em situações últimas de sobrevivência,sem dúvida. Aqui fica mais um exemplo. 

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Fernando Pessoa


Afinal, a melhor maneira de viajar é sentir.
Sentir tudo de todas as maneiras.
Sentir tudo excessivamente,
Porque todas as coisas são, em verdade, excessivas (...)

                                                             Álvaro de Campos


Pertenço a um género de portugueses que depois de estar a Índia descoberta ficaram sem trabalho.
                                                              Fernando Pessoa



Neste momento em que tanta gente se encontra sem trabalho e em que outros se engordam à custa deles e se aumentam a si próprios descaradamente, ou não se privam de privilégios e mordomias para ajudar o seu país, é pertinente lembrar esta frase de Fernando Pessoa e interrogarmo-nos que outras Índias é que vamos agora descobrir para sair desta crise.
 

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Ericeira- Forte de São Pedro da Ericeira


 Aqui está uma das vantagens de se ler livros: ontem à noite, ao ler o livro de Álvaro Guerra (magnífico escritor), Razões de Coração, Romance de paixões acontecidas em Mafra ocupada pelos franceses no ano de 1808 (magnífico livro e um documento imperdível sobre a invasão francesa por terras de Portugal), descobri o nome e a história do forte da Ericeira, por onde já várias vezes passeei, não sabendo nada sobre ele, pois nada consta no local.
Quando Álvaro Guerra menciona o Forte de Milreus, pus a cabeça a trabalhar e relacionei o nome de Mil Regos (nome do Parque de Campismo da Ericeira), descobrindo «a pólvora»: era este o nome do forte por onde eu tantas vezes passeei. Eureka!



Estas são as informações principais sobre este forte, de longa e interessante história:
 
O Forte de São Pedro da Ericeira, também conhecido como Forte de Mil Regos, Forte de Milreu ou Forte da Ericeira, localiza-se na povoação da Ericeira, no concelho de Mafra, distrito de Lisboa, em Portugal.
É o último remanescente dos poucos fortes erguidos à época da Restauração da Independência, para defesa daquele trecho do litoral. Destinava-se a controlar o acesso marítimo à Ericeira pelo setor norte e, ao mesmo tempo, prevenir qualquer tentativa de desembarque na baía vizinha, formada pela praia de Ribeira de Ilhas.
Em 1735, o forte contava com sete peças de artilharia. 


Danificado pelas fortes intempéries registadas na região em 1751, procedeu-se à reconstrução de alguns elementos estruturais, cuja estabilidade foi seriamente agravada pelo terramoto de 1755, entrando o forte em processo de ruína.

 No início do século XIX a 3 de Janeiro de 1819, o governador do forte e a Câmara solicitaram auxílio ao soberano, visando a reconstrução do cais, desmoronado por ação do mar.

No contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), foi reparado entre 1831 e 1832, sendo utilizado pelas forças miguelistas. Entretanto, em meados do século recaiu outra vez em abandono, levando a que por requerimento endereçado em 1871 ao Ministro da Guerra, fosse solicitada a utilização de algumas das suas lajes no restauro e construção dos anexos da igreja de São Pedro da Ericeira, o que foi prontamente anuído, enquanto que, na década de 1880, foi recolhida a artilharia remanescente.



Em 1891, a Guarda Fiscal instalou-se nas dependências do Forte da Ericeira e na antiga Casa do Governador, anexa ao mesmo, utilizada à época como escola para meninas. Nesse período, em 1896, tendo desabado parte da muralha do forte, o orçamento para os reparos devidos elevou-se a 35 contos de réis.

No início do século XX, o antigo forte foi reequipado de artilharia por determinação de D. Manuel II (1908-1910).
Novamente abandonado, em 1940, foi reedificada a muralha subjacente, passando o imóvel a ser tutelado pelo Ministério das Finanças. Nesse período, em 1945, foram feitos projetos pela Junta de Turismo da Ericeira, contemplando a adaptação do antigo forte a miradouro, a instalação de uma casa de chá e o estabelecimento de uma pousada.



Classificado como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto 129/77, publicado em 29 de Setembro de 1977, o forte apenas foi objeto de conservação na década de 1980, quando a DGEMN procedeu à reconstrução da muralha e do pavimento do terraço.
Atualmente conservam-se os seus espaços mais importantes: a bateria, formada por uma ampla esplanada voltada para o mar, a casa-forte, pelo lado de terra, com compartimentos abobadados.




Pergunto-me a mim mesma, como é que é possível que um monumento com esta importância histórica esteja hoje sem uma placa sequer de identificação, pois a Ericeira é um local de muito turismo e o Forte facilmente visitável, por um caminho de terra.
Excelentíssimos senhores da Câmara de Mafra ou quem de direito: por favor, mandem fazer uma placa para este monumento e ponham-no bem visível. Não levem a mal, é um conselho de uma amiga da Ericeira e dos monumentos, mesmo dos esquecidos. 


terça-feira, 9 de abril de 2013

«Dança lenta» - anónimo


 A autora deste poema é uma jovem anónima italiana, doente terminal de cancro. Esse facto torna-o num poema único, que nos comove pela sua mensagem mas também pelas circunstâncias em que foi escrito.
Esta jovem, nos seus últimos dias de vida, preocupa-se com os outros seres humanos, fazendo-lhes um apelo: é preciso parar um pouco e aproveitar cada momento para gozar os pequenos prazeres da vida: ouvir o som da chuva, olhar o pôr do sol, dar atenção aos nossos filhos quando eles precisam dela...
A música não durará sempre!!! 

Ouçam este apelo e transmitam-no! Isso vai tornar esta jovem um pouco mais feliz, de certeza!




DANZA LENTA

Hai mai guardato i bambini in un girotondo ?
O ascoltato il rumore della pioggia
quando cade a terra?
O seguito mai lo svolazzare
irregolare di una farfalla ?
O osservato il sole allo
svanire della notte?
Faresti meglio a rallentare.
Non danzare così veloce.
Il tempo è breve.
La musica non durerà.
Percorri ogni giorno in volo ?
Quando dici "Come stai?"
ascolti la risposta?
Quando la giornata è finita
ti stendi sul tuo letto
con centinaia di questioni successive
che ti passano per la testa ?
Faresti meglio a rallentare.
Non danzare così veloce
Il tempo è breve.
La musica non durerà.
Hai mai detto a tuo figlio,
"lo faremo domani?"
senza notare nella fretta,
il suo dispiacere ?
Mai perso il contatto,
con una buona amicizia
che poi finita perché
tu non avevi mai avuto tempo
di chiamare e dire "Ciao" ?
Faresti meglio a rallentare.
Non danzare così veloce
Il tempo è breve.
La musica non durerà.
Quando corri cosi veloce
per giungere da qualche parte
ti perdi la metà del piacere di andarci.
Quando ti preoccupi e corri tutto
il giorno, come un regalo mai aperto . . .
gettato via.
La vita non è una corsa.
Prendila piano.
Ascolta la musicà.


 

sábado, 6 de abril de 2013

Olhos que são espelhos

  • Os olhos são o espelho da alma





«O silêncio» de Teolinda Gersão



O Silêncio (1981), de Teolinda Gersão (Coimbra, 1940), escritora e professora, foi um dos livros que reli nos últimos tempos e que gostei de reler.
Esta é, sem dúvida, uma autora que se dedica a uma escrita livre, que flui como o pensamento ou como as ondas do mar que vão e vêm ao sabor das luas, uma escrita de grande beleza natural.
Embora o título do livro seja O Silêncio, que nos faz lembrar a expressão «O silêncio é de ouro», só de verdadeiro alcance para alguns mais expeditos na arte do entendimento entre humanos, este é apenas uma das temáticas sobre que a autora quer falar. O silêncio é o do mar, que quase submerge a casa na falésia, o interior da casa e sua relação com as personagens, as flores e plantas, o jardim, a solidão.E nós, os leitores.
Um belo livro para ler ou reler. Este diálogo que se transcreve aqui, é tão real que me faz lembrar outros diálogos e outras palavras trocadas tantas vezes, numa praia ou noutro local qualquer.

 A revista de novo fechada, dobrada no cesto de vime, o relógio batendo, e não é nada disto que eu quero,
-recusar tudo e recomeçar de outra forma,
-mas não há outra forma possível,
-corpos que brevemente se entendem e de novo partem, soltos, separados,
-porque você recusa o real, você recusa,
-porque sempre sonhei viver de outro modo,
-mas só existe o real e é preciso resignar-se,
-mas quem vai definir o que é real,
 -o real é o contrário do  sonho,
-e se for o sonho que é real,
-está de novo mentindo ,
-a vida não se repete apenas, é possível uma súbita alteração qualitativa,
-a vida é uma coisa sem brecha, não há nunca rotura nem milagre,
-não sonhamos talvez o suficiente,
-é preciso parar de imaginar.
-Vou-me embora, disse-lhe, depois de uma pequena pausa.........