sexta-feira, 16 de setembro de 2011

«Varandas» de Isabel del Toro Gomes



Varandas

Já tive mil varandas

E agora não tenho nenhuma…

A primeira era grande como o universo

Com tanque e tudo para lavar a roupa

E fazer as barrelas

Um dia mergulhei nele

Ficou o vestido e tudo o resto encharcado

A mãe ralhou mas nada mudou…

Continuo a mesma menina

Que contempla o mundo na varanda ou à janela



A varanda pode ser o mundo todo

Onde a infância passa ligeira e serena

Aí aprendi tudo da vida

A riqueza e a pobreza

A inveja e o ódio

A amizade a injustiça tanta coisa

O princípio e o fim

Aí fiz de fada e de princesa

Joguei às escondidas e saltei à corda

Encerrei os sonhos na casinha das bonecas…

Tive um cão por um dia

E muitas lágrimas derramadas

Quase nada ou quase tudo me servia

Para entreter as longas horas

Daquela existência não programada

Não era feliz nem infeliz

Apenas vivia



Agora que já não há varandas

Para alcançar o céu e as estrelas

Para ver quem passa na rua

Vou escrevendo palavras

Numa página nua.








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