terça-feira, 8 de março de 2011

«Mataram a Tuna» de Manuel da Fonseca


Manuel da Fonseca, um dos principais escritores neo-realistas, nasceu em Santiago do Cacém em 1911 e morreu em Lisboa em 1993. A sua faceta de poeta é a menos conhecida, pelo que escolhi este poema dele, em que retrata admiravelmente a atmosfera de festa duma qualquer vila (possivelmente do seu Alentejo natal), onde as classes populares se divertem de forma simples e espontânea, sem pompas nem circunstâncias, mas com alma e muita garra, o que desagrada aos «senhores e senhoras» importantes.
Mais um exemplo em como a palavra e a poesia podem servir uma causa, neste caso a do neo-realismo. 
E porque não seguir o conselho do autor, neste frio e chuvoso dia de Entrudo: façamos qualquer coisa de louco e de heróico! Nem que seja umas panquecas ou uns crepes...para alegrar as almas e o dia!



Mataram a Tuna
Nos domingos antigos do bibe e pião
saía a Tuna do Zé Jacinto
tangendo violas e bandolins
tocando a marcha Almadanim.

Abriam janelas meninas sorrindo
parava o comércio pelas portas
e os campaniços de vir à vila
tolhendo os passos escutando em grupo.
Moços da rua tinham pé leve
o burro da nora da Quinta Nova
espetava orelhas apreensivo
Manuel da Água punha gravata!
Tudo mexia como acordado
ao som da marcha Almadanim
cantando a marcha Almadanim.
........................................................................................................
Entanto as senhoras não gostavam
faziam troça dizendo coisas
e os senhores também não gostavam
faziam má cara para a Tuna:
-que era indecente aquela marcha
parecia até coisa de doidos:
não era música era raiva
aquela marcha Almadanim.
........................................................................................................
Meus companheiros antigos do bibe e pião
agora empregados no comércio
desenrolando fazenda medindo chita
agora sentados
dobrados nas secretárias do comércio
cabeças pendidas jovens-velhinhos
escrevendo no Deve e Haver somando somando
na vila quieta
sem vida
sem nada
mais que o sossego das falas brandas...
-onde estão os domingos amarelos verdes azuis encarnados
vibrantes tangidos bandolins fitas violas gritos
da heróica marcha Almadanim?!

Ó meus amigos desgraçados
se a vida é curta e a morte infinita
despertemos e vamos
eia!
vamos fazer qualquer coisa de louco e heróico
como era a Tuna do zé Jacinto
tocando a marcha Almadanim!
                                                      Planície

5 comentários:

  1. Está incompleto.
    Já agora a faceta de poeta de Manuel da Fonseca é MUITO conhecida!

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  2. Manuel da Fonseca pode ser muito conhecido como poeta (por alguns), mas são os seus contos e romances os mais estudados e editados: Aldeia Nova, Cerromaior, O Fogo e as Cinzas, Seara de Vento, O Anjo no Trapézio, Tempo de Solidão. As linhas de pontos significam que faltam partes ao texto.

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  3. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  4. como já se disse acima, está incompleto o poema. Poema que é extraordinariamente belo.

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  5. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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