segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

«Livro» de José Luis Peixoto



Pode-se afirmar que José Luis Pexoto faz parte da «novíssima geração de Abril», já que nasceu em 1974, em Galveias, Ponte de Sor. Nascido e criado em tempos de gritos de liberdade, de novas realidades nunca vistas, de avanço e progresso, de prosperidade... enfim, tudo tão diferente do que foi a nossa infância e juventude, separada  apenas por vinte anos (fiz vinte anos em 1974). Pena é que tudo isto tenha acabado quando estes jovens alcançam a maioridade e têm apenas 36 ou 37 anos. Foi uma felicidade efémera...
Pode-se afirmar que este é um caso de sucesso, um bom «fruto da revolução de Abril», já que obteve imensos prémios e granjeou um sucesso invejável.
Li este livro chamado estranhamente «Livro» porque aborda o tema da emigração dos portugueses para França, nos anos da miséria salazarista, tema bastante actual, aliás, neste momento de crise.
Posso dizer que gostei da sua escrita e da forma como narra a estória, de uma forma geral, não aderindo, no entanto, à tendência do uso do palavrão e de referências aos instintos mais sórdidos dos humanos, sintomático nestes jovens autores. Penso que isso se deve a uma sua necessidade congénita de chamar a atenção para esses aspectos, de se servir de forma aleatória dos mais baixos instintos humanos, que não nos caracteriza a nós, mais velhos e fruto de outra educação.
Cá por mim, todos eles podiam muito bem passar sem este tipo de conteúdos ou de linguagem, o público ia lê-los na mesma, não têm necessidade nenhuma de usar tanto palavrão (não é muito no caso deste autor, comparado com outros), que podem agradar a algum tipo de público, mas que «perturba» um pouco muita gente dos 50 para cima, que afinal ainda é uma parte importante dos seus leitores, visto que ainda possuem algum poder de compra e alguns hábitos de leitura.
Penso que é uma má aposta, a médio e longo prazo, destes novos escritores, mas isto é a minha opinião. E quem sou eu?
Que tal fazer-se um estudo de mercado, a várias faixas etárias? Gosta de ouvir ou ler palavrões a eito em livros ou outras formas de expressão artística? Ou já lhe chegam os que tem de ouvir na vida real?

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Saul Dias




Pseudónimo de Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão do poeta José Régio, Saúl Dias nasceu em Vila do Conde em 1902. Formou-se em Engenharia Civil, frequentou a Escola de Belas-Artes do Porto, realizando em Portugal várias exposições individuais   de pintura e desenho. Colaborou artisticamente em diversas revistas e jornais, nomeadamente a Presença,a cujo grupo pertenceu como poeta e como artista plástico.
A sua poesia caracteriza-se por uma grande delicadeza e pureza de expressão.
Achei muito curioso este poema, por me identificar com ele: também eu tive que eliminar da minha vida, progressivamente, o café, o fumo, e muitas outras coisas. Mas há sempre muito que fica ainda para viver, para além destes pequenos deleites da vida.

Álcool, Fumo e Café

Não mais o álcool,
não mais o fumo,
de azulado rumo,
nem o café.
Resta-me a fé
num áureo aprumo.
Não me consumo.
Sei como é.

Os nervos cansam
e vão partir-se.
A voz de Circe
ouço-a ainda...
E, mais mais linda,
ainda me chama
e, embora lama,
quero-lhe ainda.

Mas quero quietos
os meus sentidos,
comprometidos
em ascensões.
As sensações
hei-de chamá-las,
purificá-las
com comunhões.

Resto sedento,
desalentado...
Quem a meu lado
no funeral?
Negro portal
hei-de quebrá-lo.
Cantar de galo
sobre o coval.
..................

De qualquer forma
sigo o meu rumo,
num áureo aprumo,
cheio de fé.
Sem o café,
sem o tabaco, cortar o opaco
sei com é.

                             in «Tanto»

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

«O Principezinho» de Antoine de Saint-Exupéry



Em tempos tão conturbados e de tanto egocentrismo como aqueles em que vivemos, vale a pena relembrar esta obra magnífica e o seu autor, Antoine de Saint-Exupéry, que, não obstante ser filho de condes, serviu o seu país durante a Segunda Guerra Mundial, acabando por morrer num desastre de aviação numa missão de reconhecimento, aos 44 anos.
Apaixonado desde a infância pela mecânica e pelos aviões, este escritor francês começa a sua carreira de piloto em 1926, que acaba por lhe ser fatal, morrendo em 31 de Julho de 1944. O seu avião só foi encontrado cerca de 50 anos depois.
Ficou mundialmente conhecido como autor do livro «O Principezinho», para mim, uma obra-prima e um dos livros mais emocionantes e verdadeiros de sempre. O mais impressionante é o facto de Saint-Exupéry o ter escrito em 1943, em plena Guerra Mundial, em tempos de enormes atrocidades, enquanto estava exilado nos EUA.


Como foi possível a este escritor, no meio duma Guerra Mundial, manter o seu espírito criativo e imaginar a personagem sensível e maravilhosa do Principezinho ? Ou talvez fosse por isso mesmo que o inventou, pelo facto do mundo e dos homens estarem tão carenciados e privados de beleza e de amor.
Todos os capítulos são maravilhosos, mas escolhi um excerto do capítulo XVI, por falar da Terra:

O sétimo planeta foi, portanto, a Terra.
A Terra não é um planeta qualquer. Tem cento e onze reis (contando, claro está, com os reis pretos), sete mil geógrafos, novecentos mil homens de negócios, sete milhões e meio de bêbedos, trezentos e onze milhões de vaidosos, ou seja, aproximadamnte, dois biliões de pessoas grandes.

E podíamos continuar por aí fora a lista de Saint-Exupéry, mas é melhor ficarmos assim.

«Se vieres, por exemplo, às quatro da tarde, a partir das três começarei a sentir-me feliz.»  (Principezinho)





quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

José Saramago




José Saramago, Prémio Nobel 1998
 
 
Visitei no dia 18 de Junho o edifício da Fundação José Saramago, instalada na famosa Casa dos Bicos, no Campo das Cebolas. Precisamente no dia em que passaram 4 anos após a sua morte.


Só agora! Mas mais vale tarde do que nunca!
O dia estava cheio de sol, o autocarro ondulava e saltitava que nem um barco no mar alto pelo meio dos inúmeros obstáculos do caminho, mas lá chegámos, a minha amiga e eu.
Valeu a pena, no entanto. O edifício é muito bonito e ricamente decorado, com os seus mármores, madeiras ricas, vitrais... Também gostei das exposições e vídeos.

Aproveito para colocar aqui este power-point que me enviaram e de que gostei muito.
Palavras com sentido, cada vez com mais sentido!xa.yimg.com/kq/groups/13772410/1155245910/name/Saramago.pps


sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

«Perto do Coração Selvagem» de Clarice Lispector






Primeiro livro de Clarice Lispector, escrito aos 19 anos apenas, tornou-se uma obra decisiva nos novos caminhos da ficção brasileira  e elevou a sua autora ao primeiro plano das letras do Brasil, seu país de acolhimento.
Na realidade, sendo de origem judaica e tendo nascido na Ucrânia em 1920 , quando a sua família foi perseguida durante a Guerra Civil Russa de 1918-1921, antes da viagem de emigração para o Brasil, aí chegou com apenas 2 meses de idade. Por iniciativa de seu pai, todos mudaram de nome, à excepção da irmã Tânia, passando Haia (seu nome verdadeiro) a chamar-se Clarice..
 Clarice Lispector começou a escrever logo que aprendeu a ler, na cidade do Recife, onde passou parte da infância. Falava vários idiomas, entre eles o francês e inglês. Cresceu ouvindo em casa o idioma materno, o iídiche.
Revelando nesta obra uma penetrante capacidade de análise psicológica, grande domínio da linguagem,  força e  originalidade expressivas, Clarice Lispector afirma desde logo o seu talento para a escrita.
Faleceu com cancro no dia 9 de dezembro de 1977, um dia antes de seu 57° aniversário.
Sendo ela conhecedora e falante de várias línguas, escreveu sempre em língua portuguesa, a sua língua do coração, como ela afirmava.

«Amo esta língua. Não é uma língua fácil.É um verdadeiro desafio para quem escreve. Sobretudo para quem escreve querendo roubar às coisas e pessoas a sua primeira camada superficial. É uma língua que por vezes reage contra um pensamento mais complexo.»
















domingo, 2 de janeiro de 2011

Ano Velho Ano novo

Para todos que vão seguindo este blogue, que não deixem que se apaguem o fogo da vida e as luzes que viram brilhar nos céus no início do ano novo.
Muita luz, muita paz e muitas leituras para 2011!