domingo, 27 de junho de 2010

Cartas Sem Moral Nenhuma

                                                              Catedral de Sevilha
Neste ano em que se comemora o centenário da República, resolvi dedicar algum tempo à obra de Manuel Teixeira Gomes, 7º Presidente da 1ª República, entre 1923 a 1925, cargo a que renunciou para se dedicar à produção literária (ou para fugir à enorme perturbação política e social da época?).
Comecei por ler o romance «Maria Adelaide», única obra deste autor que tinha em casa, e achei-o tão dIferente e original em relação ao seu tempo que resolvi ler mais qualquer coisa. Daí até encontrar numa feira do livro «As cartas sem moral nenhuma», foi um passo. A Bertrand editou as obras completas deste autor há alguns anos e é fácil encontrá-las a bom preço. 
Foi um daqueles casos em que o título do livro nos agrada, mas depois não corresponde em nada àquilo que esperávamos. Embora nalgumas cartas o autor relate acontecimentos divertidos e interessantes para o estudo do meio socio-cultural da época (este é um dos grandes interesses que pode oferecer a correspondência), rapidamente me começou a enfastiar a sua linguagem muito rebuscada e difícil. Confesso que já não tenho paciência nem tempo para livros difíceis.  
Mas como todas as cartas iniciais eram escritas de Sevilha, terra natal de meu avô materno e padrinho, Mariano de seu nome, de quem  guardo gratas recordações de infância (eu era a sua «jóinha»), lá continuei a ler. Deste modo, fiquei a saber mais algumas coisas de Sevilha, dos seus costumes e da sua catedral, a maior de Espanha, que já visitei mas não recordo quase nada (só me lembro de subir à torre e ver Sevilha a meus pés, emocionada por aí ter começado, algures, este ramo da minha família).
Para quem tenha paciência e curiosidade, vale a pena ler. Pela sua ironia sarcástica, principalmente. Como neste excerto: 
«Hoje cantava-se una infindável missa de pontifical a que assistiam inúmeros cavalheiros de oficial importância, esses inconfundíveis  aspirantes a estadistas que em Espanha se distinguem dos outros mortais pelo seu perfil de chocolateira - com o bico invertido - e são ultradecorativos.» 

domingo, 20 de junho de 2010

Cem anos de Solidão


No dia do adeus a Saramago, terminei finalmente a obra de outro prémio Nobel, «Cem anos de solidão», de Gabriel García Márquez, seis anos mais novo que Saramago. 421 páginas para mim é muito, e se consegui chegar ao fim é sinal que o livro me interessou, não obstante a sua estrutura em círculo ou em espiral que nunca mais acaba. Mas Gabriel García Márquez é na realidade um grande escritor, cujo realismo me interessa mais do que o seu Realismo Fantástico. Ao escrever a história da Família Buendía como «...uma engrenagem de repetições irreparáveis, uma roda giratória que teria seguido às voltas até à eternidade, não fosse o desgaste progressivo e irremediável do eixo.» (pág. 400), o autor acaba por fazer a história do mundo e de todos os homens. Incluindo dele próprio, pois há muito de autobiográfico nesta obra (como sempre, aliás).
A roda do mundo continua a girar, implacável, por enquanto, determinando os dias e a hora de nascer e de morrer.